segunda-feira, 24 de setembro de 2007

"Supermercado Celeste"

"Supermercado Celeste"
Em um dia cinzento e frio, ainda não faz muitos anos,
vinha eu apressada percorrendo esta estrada incerta da vida.
Sem prestar muita atenção ao meu redor,
estava muito mais preocupada em observar os buracos e as pedras
que freqüentemente encontrava nesta minha caminhada.
Foi por pura coincidência que avistei o supermercado
que faz parte de uma grande "franchise".
Fui informada que sempre há uma filial
onde quer que a gente vá em nosso globo terrestre.
É só procurar...
O que me chamou a atenção foi o seu nome:
SUPERMERCADO CELESTE
Aproximei-me por curiosidade
e imediatamente as portas foram se abrindo.
Quando dei por mim já lá dentro me encontrava.
Ali havia muitos anjos recepcionando as pessoas
e ajudando os "clientes".
Um deles entregou-me um carrinho de compras.
Era o meu próprio Anjo que aconselhou-me
a fazer minhas escolhas com muita calma e atenção.
"--Tudo o que um cristão necessita em sua viagem
por esta vida poderia ser ali encontrado"
-- informou-me o meu guardião.
"--Pegue tudo o que couber no carrinho.
As coisas que não puderem ser levadas desta vez
estarão sempre aqui à sua disposição;
e pode voltar quando e quantas vezes quiser,
aqui ou em qualquer das outras filiais".
O primeiro item que escolhi foi PACIÊNCIA.
Na verdade o cristão necessita dela a toda hora.
O AMOR, de várias marcas e embalagens,
estava nesta e em várias outras prateleiras.
Ali perto estavam COMPREENSÃO e HUMILDADE .
Delas peguei vários pacotes porque, imperfeita como todo mortal,
esqueço-me dos meus defeitos e fico julgando os dos outros.
Coloquei no carrinho algumas caixas de SABEDORIA
e muitos de FÉ e CONFIANÇA .
Não me esqueci de pegar a LUZ DO ESPÍRITO SANTO
pois ela estava em todas as partes.
Na seção vizinha encontrei FORÇA e CORAGEM,
muito importantes para nos ajudarem em nossa jornada para a eternidade.
Meu carrinho já estava bem cheio
mas lembrei-me de um ítem muito importante
e retornei três fileiras para pegar algumas caixas de GRAÇAS.
Ali perto estava SALVAÇÃO.
Dessas peguei vários pacotes, o suficiente para nós
-- eu e você –
porque estava em promoção.
Por estar com o carrinho quase lotado fui me dirigindo
para a saída à procura das filas dos caixas.
Ali eu já estava com mercadoria suficiente
para me ajudar nessa mudança de planos de viagem
que estava disposta a fazer.
Estava definitivamente querendo fazer a vontade do "Senhor".
Já quase no final encontrei uma prateleira cheinha de ORAÇÕES.
Refletindo bem achei melhor pegar muitas caixas delas.
Vulnerável ser humano como sou,
era só eu sair daquele estabelecimento
para me esquecer de meus propósitos
e encontrar uma forma de pisar em terreno muito seguro.
PAZ e ALEGRIA havia até de sobra
e estavam estocadas na última seção
juntamente com CANTOS e CANÇÕES.
Como não conseguia ver onde estavam localizados os "caixas",
perguntei ao meu Anjo-da-guarda
onde é que deveria saldar o meu débito.
Ele sorriu e me disse:
"-- Leve a sua mercadoria, daqui por diante,
a todos os lugares por onde for".
Novamente indaguei onde se encontravam os caixas porque,
afinal, eu gostaria de efetuar o pagamento de minhas compras.
O Anjo olhou-me com candura,
e como se estivesse olhando
dentro de meu coração, respondeu-me:
"--Minha filha, Jesus já pagou sua conta...
há muito tempo atrás".
Um fato real
Dois irmãozinhos maltrapilhos, provenientes da favela,
um deles de cinco anos e o outro de dez,
iam pedindo um pouco de comida
pelas casas da rua que beira o morro.
Estavam famintos,
"vai trabalhar e não amole": ouvia-se detrás da porta:
"aqui não há nada moleque...": dizia outro...
As múltiplas tentativas frustradas entristeciam as crianças...
Por fim, uma senhora muito atenta disse-lhes:
"Vou ver se tenho alguma coisa para vocês ... Coitadinhos!"
E voltou com uma latinha de leite.
Que festa! Ambos se sentaram na calçada.
O menorzinho disse para o de dez anos:
- você é mais velho, tome primeiro...
e olhava para ele com seus dentes brancos,
a boca semi-aberta, mexendo a ponta da língua.
Eu, como um tolo, contemplava a cena...
Se vocês vissem o mais velho
olhando de lado para o pequenino...!
Leva a lata à boca e, fazendo gesto de beber,
aperta fortemente os lábios
para que por eles não penetre uma só gota de leite.
Depois, estendendo a lata, diz ao irmão:
- Agora é sua vez. Só um pouco.
E o irmãozinho, dando um grande gole exclama:
- "como está gostoso!"
- Agora eu, diz o mais velho.
E levando a latinha, já meio vazia, à boca, não bebe nada.- Agora você.- Agora eu.- Agora você.- Agora eu.E, depois de três, quatro, cinco ou seis goles,
o menorzinho, de cabelo encaracolado, barrigudinho,
com a camisa de fora, esgota o leite todo... ele sozinho.
Esse "agora você", "agora eu" encheram-me os olhos de lágrimas...
E então, aconteceu algo que me pareceu extraordinário.
O mais velho começou a cantar, a sambar,
a jogar futebol com a lata de leite... estava radiante...
o estômago vazio, mas o coração trasbordante de alegria.
Pulava com a naturalidade
de quem não fez nada de extraordinário, ou melhor,
com a naturalidade de quem está habituado
a fazer coisas extraordinárias
sem dar-lhes maior importância.
Daquele moleque nós podemos aprender a grande lição,
há mais alegria em dar do que em receber.
É assim...que nós temos de amar.
Sacrificando-nos com tal naturalidade,
com tal elegância, com tal descrição,
que os outros nem sequer possam agradecer-nos
o serviço que nós lhe prestamos.





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